“Live” NeuroCovid

 Em COVID-19, Pesquisa científica, Telelaudo

SOBRE A LIVE

No dia 26 de maio de 2020, às 17h, gravamos a live intitulada “NeuroCovid – Manifestações neurológicas e aspectos neurorradiológicos da COVID-19”, com a participação do Dr. Victor Hugo Marussi, coordenador científico da Telelaudo, e da Dra. Mariana Coelho, diretora médica da Telelaudo. O conteúdo da gravação é voltado para médicos e residentes de medicina.

Para ver o vídeo de 18 minutos, basta clicar no triângulo (“play”) no centro da imagem, abaixo:

IMPORTANTE

É importante reforçar que os tópicos discutidos em formato de recomendações ou mesmo dos achados descritos podem ser modificados e adaptados/complementados por conta da rápida evolução da pandemia. Por estarmos diante da infecção por um novo vírus as nuances de seu comportamento clínico-epidemiológico não são totalmente conhecidas. Realizamos esta gravação no dia 26 de maio de 2020, às 17 hs, horário de Brasilia.

RESUMO DA LIVE

1- Quais são as principais complicações neurológicas observadas nos pacientes com COVID-19? Uma das manifestações mais precoces da Covid-19 é a anosmia, que pode ser considerada neurológica, ainda que não tenhamos certeza absoluta da invasão do vírus no bulbo olfatório, trabalhos experimentais em ratos demonstraram esta característica nos coronavírus, e esta pode ser uma via de entrada no SNC, a ser confirmada em estudos futuros. Um estudo recente, que avaliou RM em pacientes post-mortem com COVID, demonstrou aumento assimétrico dos bulbos olfatórios, corroborando provável invasão destas estruturas. Outros sintomas são cefaléia, mialgia, encefalopatia, AVC, Guillain-Barré, e menos comumente, ataxia, crises convulsivas e tonturas. Lembrando que quanto mais grave for o caso, maior a chance de acometimento do SNC. Um estudo na cidade de Wuhan, publicado na NEJM, observou manifestações neurológicas em cerca de 36% dos pacientes internados, um número alto.

2- Qual a provável fisiopatologia para explicar estas manifestações tão diversas? A resposta ainda não existe porém muito provavelmente é multifatorial. Podemos ter invasão direta do vírus no SNC, já que os coronavírus tem a característica de serem vírus neurotrópicos, podemos ter alterações do sistema de coagulação, levando a micro-hemorragias (microangiopatia trombótica), acidentes vasculares isquêmicos, hemorrágicos e tromboses; cascata inflamatória levando a disfunção da BHE, edema e inflamação cerebral; hipóxia levando a disfunção neuronal; disfunção da auto-regulação vascular cerebral e efeitos adversos de drogas. Além disto, o acometimento viral em outros órgãos, tais como fígado e rins, podem levar a alterações neurológicas secundárias a hepatopatia e insuficiência renal. Portanto, ainda temos muito a entender e estudar sobre a fisiopatologia exata, e provavelmente classificaremos o comprometimento do SNC pelo vírus como multifatorial, assim como acontecem com outros vírus.

3- Existe algum grupo de pacientes mais propensos ? Da mesma forma que pacientes imunodeprimidos, com co-morbidades tais como HAS e DM, hiperlipidêmicos e oncológicos tendem a desenvolver formas mais graves da doença, no SNC também observamos complicações mais comumente relacionadas a estes grupos de pacientes. Contudo, existem estudos mostrando uma certa tendência a pacientes com AVC e Covid-19 serem de uma faixa etária mais jovem e com trombos em grandes vasos, ainda a ser explicado. Interessante também ressaltar que, pacientes com doenças neurodegenerativas vem sofrendo muito na pandemia. O isolamento social impede a socialização tão importante para estes pacientes, aumenta o número de transtornos depressivos associados, também dificulta as sessões de reabilitação, de forma que o curso da doença se torna mais rápido e grave. Há ainda relatos de pacientes com doenças neurodegenerativas que contraíram Covid-19 e cujo curso da doença se exacerbou.

4- Quais manifestações mais comuns de AVC? Podemos observar tanto AVC isquémicos, quanto hemorrágicos. Nos eventos isquêmicos observamos desde pequenas lacunas, infartos de grandes vasos até dano hipóxico-isquêmico difuso. Eventos hemorrágicos variam de micro-hemorragias difusas a hematomas parenquimatosos. Alguns pacientes, com eventos trombóticos e hemorrágicos no SNC, apresentaram curiosamente positividade para anticorpo-anticardiolipina e Beta2 glicoproteína.

5- Quais os achados de imagem que o neurorradiologista deve estar atento? Um artigo recente da NEJM demonstrou achados de RM em 11 pacientes. Podemos observar impregnação leptomeníngea, e aí reitero a importância da sequência FLAIR pós gadolínio, também observamos eventos isquêmicos e alterações perfusionais na sequência ASL, principalmente fronto-temporais. Também acho importante estar atento a sequência SWI para avaliação de micro-hemorragias (seja por disfunção endotelial, por CIVD, hipóxia, etc.). Avaliar também perviedade de grandes vasos arteriais e seios durais. Interessante também avaliar comprometimento de bulbos olfatórios através da sequência STIR cortes finos. Tivemos um relato isolado de encefalite com alteração de sinal mesial temporal, no qual o PCR pro vírus foi positivo no líquor. Recentes relatos de leucoencefalopatia, encefalite necrotizante aguda e edema vasogênico cerebral decorrente da cascata inflamatória. Concluindo, em pacientes moderados a graves, vale a pena incluir no protocolo uma sequência FLAIR pós gadolínio, sequência de perfusão (ASL ou T2), Coronal STIR cortes finos interessando bulbos olfatórios.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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